Ainda a propósito dos desentendimentos políticos originados pelo aumento do salário mínimo condicionado ao abaixamento da Taxa Social Única, proposto pelo governo em sede de concertação social. Vivemos um tempo muito curioso. E, a política pela sua própria natureza, não foge a esta complexa curiosidade. Procuram-se respostas aos problemas, pelo menos uma parte significativa da população, em soluções políticas cujas respostas apresentadas têm como consequência o aumento da despesa pública.
Na verdade, ninguém bem formado e que entenda o verdadeiro alcance do conceito de coisa pública, poderá no seu perfeito juízo, defender baixos salários, pensões e reformas, baixas. Isto seria uma perfeita tontaria. Porém, a extrema-esquerda que suporta o atual governo acusa o centro-direita disso mesmo. Um verdadeiro e total disparate. O que porventura o centro direita será, isso sim, é mais pragmático e mais realista. Se o país produz 100, não deverá gastar 230. A dívida pública portuguesa representa 133% do produto interno bruto.
Isto para dizer que o salario minino deverá estar indexado ao aumento da produtividade das empresas e à inflação, só excecionalmente à custa dos impostos pagos pelas famílias e empresas. No entanto, o atual governo para agradar a todos, empresas, sindicatos e bloco de esquerda, colocou-se numa “camisa de sete varas” e vai ver a proposta do aumento do salário mínimo chumbada no parlamento. O mesmo parlamento que permitira o partido socialista formar governo, mesmo tendo perdido as últimas eleições legislativas.
Ora, a atual solução politica que assenta numa coligação parlamentar e não numa coligação de governo, tem estas dificuldades, que, não raras vezes, são bloqueadoras do próprio sistema. Um sistema que assenta na representatividade parlamentar e no semipresidencialismo, de per si, não é gerador de soluções estáveis e duradouras. Todavia, esta realidade não se coloca só agora. Aquando da constituição da atual solução governativa, já todos tinham esta perceção de eventual bloqueio politico. Por isso, aqui não há inocentes. Confederações patronais, sindicatos, partidos políticos e instituições, sabiam-no muito bem. Mais uma vez erradamente imperou o interesse individual, em detrimento do interesse geral.
José Policarpo (crónica na radio diana)