A propósito de um congresso de jornalistas muito se tem dito e escrito sobre as misérias supostamente actuais da profissão.
Parece uma coisa nova o facto da comunicação social usar os profissionais das notícias para manipular a informação prestada, de forma a condicionar a opinião pública com a opinião publicada, disfarçada de uma factualidade isenta e sem mácula de interferências exteriores.
Se é certo que a concentração de meios, a precariedade e a exploração desenfreada, condiciona o exercício da profissão de jornalista, também é certo que esta não é uma novidade destes tempos de voracidade supostamente informativa.
Atrevo-me a dizer que sempre assim foi desde que os jornais, posteriormente a rádio e a televisão, assumiram o papel de dizer ao povo aquilo que acham que ele merece saber.
Apesar de tudo isto sempre existiram profissionais que, no mínimo, tentaram informar fora dos condicionalismos impostos pelos tempos ou pelas respectivas entidades patronais, afirmando os princípios deontológicos da profissão.
Mesmo em tempos de chumbo, havia quem tentasse fintar a censura e quem não necessitasse de o fazer porque a sua prosa glorificava o regime, por medo ou por convicção.
Sempre assim foi, com jornalistas num dia a dizerem-se independentes e isentos e no dia seguinte a ficarem a soldo de um qualquer poder ou contrapoder. Diria eu que é apenas a condição humana a mostrar-se ao mundo, nesta como noutras profissões.
Afirmar que nunca a profissão esteve tão mal, culpando exclusivamente os profissionais por tal facto, faz tanto sentido como afirmar que os jornalistas são apenas vítimas de um poder que não os deixa exercer com a mínima isenção a profissão que escolheram. Ou seja, não faz sentido nenhum.
A comunicação social existe porque alguém paga para que exista e quem paga exige que os seus interesses sejam defendidos. A independência, nesta como em todas as áreas da vida, é um conto de fadas para incautos adormecerem.
Claro que quanto maior for a concentração de meios, quanto menor for o salário, quanto mais precário for o vínculo laboral, mais se acentua esse dependência e maior é o número dos que representam o papel da voz do dono.
Há 150 anos um jovem bacharel em Direito veio para Évora, a soldo de um poderoso, fundar um jornal que teria assumidamente a função de ser a voz da oposição.
A verdade? A verdade era aquela que servia os interesses de quem pagava a edição do jornal que durou pouco mais de meia dúzia de meses.
A diferença? O homem escrevia muito e muito bem, não atropelava a língua portuguesa, fingia estar em vários sítios ao mesmo tempo e fartou-se depressa da função de fazedor de jornal, a soldo de quem podia pagar.
Aceitaria esse jovem bacharel ir dias inteiros para a entrada de um estabelecimento prisional à espera que acontecesse alguma coisa de extraordinário?
Não sabemos. Mas sabemos que há mais de um século o exercício de comunicar tinha, como hoje, a finalidade de criar uma realidade que se encaixasse no interesse de quem paga.
Escrevem pior? Alguns sim, outros não. De qualquer forma só houve um Eça de Queiroz. Já Acácios e Eusébiozinhos….
Até para a semana
Eduardo Luciano (crónica na radio diana)