Redonda como a roda da tortura
Em que sofreram os que depois queimados
Expiaram a culpa, de não ter culpa
De não ter medo!
Uma roda branca, de mármore
Gravado de palavras mudas
Que escurecem os céus
Da nossa memória
Gritadas agora no passar dos séculos
Em homenagem aos torturados
Massacrados, queimados vivos
Em labaredas acesas de ódio e intolerância
Que morreram gritando a sua culpa
De não ter medo!
Rasa no chão, como um túmulo,
Cercada de granito como árvore
Pronta a florescer,
No lugar da fogueira que antes foi!
Ostenta calada, num silêncio ensurdecedor
Um tempo que a memória não apaga
Mas que hoje naquela pedra molhada
Pede perdão, com símbolos gravados
Sem cor, entalados entre círculos
Inclusivos e concêntricos.
É uma pedra rasa num mármore
Mais antigo do que o homem,
Feita de memória, tolerância, perdão e paz,
Por isso é branca.
Évora, 22 de Outubro de 2016
Poema: Maria Barradas
Foto: Ana Beatriz Cardoso
Escultura. João Sotero