Assisti hoje ao espectáculo de encerramento da "Semana dos Palhaços" nos relvados da Malagueira. Nesta terceira edição assisti a três dos vinte espectáculos realizados em Évora neste últimos cinco dias por 10 companhias portuguesas e estrangeiras, num total de cinco países. Pelo que vi e assisti, mas também pelo que me foi dito por quem assistiu a outros espectáculos, o público foi sempre numeroso, fossem os espectáculos no Jardim Infantil, na Praça do Giraldo, na Praça do Sertório, na Tenda na Malagueira ou mesmo na sede dos PIM, quando se vai para o Alto de São Bento. Houve espectáculos de melhor e pior qualidade. Mas todos a merecerem sempre enormes salvas de palmas. No final dos espectáculos circulou sempre um chapéu para que cada qual desse os euros que achava por bem - para os artistas esse foi o único "cachet".
E aqui entramos na questão dos números. Esta "Semana dos Palhaços" teve como orçamento 1.900 euros (mil da Direcção Regional de Cultura do Alentejo e 900 da Junta de Freguesia da Malagueira. A Câmara de Évora comparticipou com a montagem da tenda na Malagueira e um palco na Praça do Sertório.) Metade deste dinheiro foi para as dormidas. O resto para a alimentação (as refeições foram colectivas e feitas por voluntários na Escola do Alto de São Bento) e para outras despesas (transportes, etc...).
1.900 euros para 20 espectáculos a que assistiram alguns milhares de pessoas (residentes em Évora e turistas), numa animação diária dos principais espaços públicos da cidade, o que dá menos de 100 euros por espectáculo.
Sem querer comparar, mas apenas como referência, num balanço recentemente divulgado pelo Cendrev, a 13ª BIME - a Bienal Internacional de Marionetas de Évora - juntou 21 companhias, de 11 países e levou a efeito 75 espectáculos na cidade. Foi uma grande Bienal, com qualidade e diversidade, constituindo um ponto alto na vida artística e cultural de Évora. O orçamento deste ano, segundo o Cendrev, rondou os 170 mil euros, sendo esta verba financiada sobretudo através dos fundos públicos comunitários que financiam a candidatura apresentada ao INALENTEJO. Ainda segundo o Cendrev "os restantes apoios, DGArtes, Entidade Regional de Turismo são manifestamente reduzidos e a Câmara Municipal limitou-se ao apoio logístico. A receita de bilheteira correspondeu a um pouco mais de 4% do respectivo orçamento".
Dada a diferença de orçamentos de 1 para 100 entre a "Semana dos Palhaços" e a BIME - e sem contestar a qualidade nem a importância da Bienal - não poderiam os fundos comunitários arranjar também alguns "tostões" para a "Semana dos Palhaços", que está a conquistar ano após ano mais qualidade, mais público e mais projecção, sabendo como se sabe que os PIM consideram que "20 mil euros seriam mais do que suficientes para fazer uma "Semana dos Palhaços" de qualidade e sem apertos financeiros"? (João Palma). Acho que bastava um pequeno esforço para que isto fosse possível.
Por fim uma outra referência: a presença/ausência de eleitos, fosse da maioria na autarquia ou da oposição, não foi nem deixou de ser notada. Foi, sobretudo, ignorada. Coisas de palhaços.