Esta é uma cidade que precisa de animação, como de pão para a boca.
As associações culturais fazem-no. Trazem alegria, cultura, diversão e isso não cai do céu aos trambolhões, representa trabalho, esforço, dedicação. Representa sobretudo a consciência que a cultura, o trabalhar na cultura, com cultura, comporta riscos.
As pessoas trabalham e muito, mas não conseguem, na maior parte das vezes, viver desse seu trabalho, têm de recorrer a outras actividades porque todos têm de comer, muitos têm filhos, contas para pagar, também adoecem, também vêem as forças fugirem à medida que a idade avança.
os agentes culturais, são formigas e não cigarras.
Trabalham com a criatividade por instrumento, com a imaginação por ferramenta, criam alegria, produzem a liberdade de questionando fazer pensar.
O PIM Teatro, existe há duas décadas, produzem peças, organizam festivais, ensinam crianças, participam socialmente.
O que ganham com isso? Contas por pagar, incertezas, angústias, dúvidas, coisas que se refletem nas suas vidas, nas vidas dos seus filhos.
Esta semana dos palhaços, movimenta as ruas da cidade, cria nos turistas que nos visitam a ficção de que Évora é uma cidade que acarinha a cultura, que vive na cultura.
Puro e triste engano...
Este festival só é possível porque os artistas são solidários, porque há gente de coração grande que ajuda com o que pode e como pode, e sobrevive o festival, ganhando a cidade, quem a visita, ganhando os senhores dos gabinetes que eventualmente irão concorrer a mais um prémio light, com espaço televisivo e fúteis desfiles de gente fútil.
Perdem os artista, perdem todos os que sabendo como a cultura é importante, vêem-na morrer nesta cidade com uma Universidade autista, um executivo camarário moribundo, um poder central distante e fascista que não gosta do povo, que não gosta da cultura, que socorre bancos e usurários, que se passeia triunfal pelos destroços do país que era suposto defender.
Seria bom que acordássemos, que percebêssemos que quando a cultura, o riso, a festa se forem, só restarão as mágoas por aquilo que nunca fizemos.
Será o fim, a noite o choro dos condenados.
Miguel Sampaio (aqui)