Na passada semana PSD, CDS e PCP chumbaram o Projecto de Lei do Bloco de Esquerda que visava proibir a aplicação de produtos contendo glifosato em zonas urbanas, zonas de lazer e vias de comunicação.
O glifosato é um herbicida classificado pela Organização Mundial de Saúde como comprovadamente cancerígeno em animais e provavelmente cancerígeno em humanos. É o herbicida mais vendido no país. O risco que a sua utilização implica para a saúde pública é imenso.
Várias são as organizações que alertam para os perigos deste herbicida, incluindo a Ordem dos Médicos Portuguesa ou a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro que já identificou a relação entre a exposição ao herbicida e o Linfoma não-Hodgkin e declarou - em março de 2015 - o glifosato como “carcinogéneo provável para o ser humano”. Este tipo de cancro de sangue é dos cancros que mais se regista em Portugal, país onde o último estudo efectuado revelou que o glifosato foi detectado em 100% das análises efectuadas à urina dos participantes, sendo estes números muito superiores aos de outros países europeus.
Os dados são, de facto, alarmantes, mas a Direita e o PCP decidiram votar contra esta resolução, invocando a necessidade de haver mais estudos. Ora, em matérias de saúde pública dever-se-á sempre seguir o princípio da precaução.
Mas porque não estão PSD, CDS e PCP preocupados com a saúde pública? Podemos induzir que preferem defender os interesses da Monsanto (que graças a este componente lucra, anualmente, mais de 5 mil milhões de dólares)? Ou por qualquer outra razão?
A verdade é que, em Portugal, para além do uso generalizado na agricultura, também várias autarquias o aplicam em praças, jardins, passeios, estradas e cemitérios.
Analisemos, então, o “panorama autárquico” permitindo-nos, talvez, perceber em parte a posição da Direita e do PCP. O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda questionou todas as autarquias acerca da eventual utilização do glifosato em espaços públicos municipais. Pouco mais de um terço dos municípios responderam. Em relação a estes partidos que votaram contra, e tendo em conta os municípios que dirigem, as respostas foram as seguintes:
* Dos 28 municípios que responderam e que são dirigidos pelo PSD, 23 afirmam utilizar este herbicida;
* Dos 6 municípios que responderam e que são dirigidos por uma coligação PSD/CDS, 4 afirmam utilizar este herbicida;
* Os 2 municípios do CDS que responderam utilizam glifosato;
* E a totalidade dos municípios dirigidos pela CDU (coligação que integra o PCP) que responderam – 16 municípios! – afirmaram utilizar este herbicida.
De todos estes municípios, apenas é conhecida a posição do município de Évora, que já anunciou publicamente ter suspendido a utilização de glifosato.
Talvez este números ajudem a explicar a pouca vergonha que se passou, na semana passada, na Assembleia da República.
Até para a semana!
Bruno Martins (crónica na radio diana)