Na passada semana assistimos a um espectáculo degradante dado por políticos acusados de corrupção, saudosos da ditadura militar, fanáticos de seitas religiosas e imbecis que repetem os que os seus mandantes determinam, tudo isto embrulhado em discurso patriótico e em nome da liberdade, e dito em português com sotaque.
Foi o culminar de uma vil campanha iniciada por uma comunicação social paga por aqueles que construíram a possibilidade de um golpe de estado sem disparar um tiro.
Aconteceu isto no Brasil, quando ainda não passaram 40 anos sobre o fim de uma feroz ditadura militar que transformou aquele país no destino preferido dos fascistas que entretanto se puseram ao fresco quando por cá recuperámos a nossa liberdade.
Ouvir um deputado nomear elogiosamente um coronel torturador, enquanto votava a favor do golpe de estado foi talvez a coisa mais repugnante que ouvi nos últimos tempos.
O movimento democrático que varreu a américa latina está hoje debaixo do fogo império que não lhe perdoa a ousadia de optar por caminhos de independência e progresso social. Se estivéssemos nas décadas de 60 ou 70 do século passado a solução seria pagar a uns quantos criminosos fardados, para derrubar governos legítimos e impor ditaduras militares, como aconteceu no Brasil, no Chile ou na Argentina.
Mudando-se os tempos a solução passa por desestabilizar através de campanhas veiculadas por uma comunicação paga para tal, que levem ao mesmo resultado, com a conivência de povos sujeitos a essa brutal manipulação.
Assistimos a esta mesma operação, de que agora o Brasil é alvo, na Venezuela e noutros pontos do mundo, com a popularização de caminhos de retrocesso a tempos de barbárie.
São preocupantes os tempos que vivemos. Parece que uma onda de neo fascismo vai crescendo e tornando legítimas todas as possibilidades, mesmo as mais atrozes.
Basta ver o que se repete nas redes sociais, o que se passa na Ucrânia, na Polónia, na Venezuela ou no Brasil para percebermos como está este mundo perigoso para os ideais de progresso.
Chegámos a um ponto em que parece admissível que o império possa ter como dirigente máximo figuras como Donald Trump e que a alternativa possa ser Hilary Clinton.
É neste contexto que, apesar de todos os retrocessos, a nossa Revolução parece brilhar como farol de futuro, podendo nós afirmar que 42 anos depois do fim da ditadura é impensável ouvir um deputado da Assembleia da República, mesmo os da direita mais conservadora, elogiar um qualquer torcionário da polícia política do regime fascista.
É preciso lembrar que a liberdade e o direito ao sonho de uma vida colectiva melhor e mais justa, têm de ser defendidos todos os dias e de forma implacável.
Comemorar o que conquistámos em Abril é também uma forma de afirmar a nossa vigilância contra a besta fascista que usa a palavra liberdade como mobilizadora para o caminho que leva à sua supressão.
Até para a semana.
Eduardo Luciano (crónica na radio diana)