A minha crónica desta semana terá abordagens geográficas diferentes. Uma é de âmbito local e concelhio, a outra, é de âmbito nacional. Vou começar pelo assunto local, porque interferirá directa ou indirectamente com a vida de todos quantos residem em Évora.
Com efeito, tem sido notícia de que o traçado da ferrovia de transportes de mercadorias que ligará o porto de Sines a Espanha no âmbito de uma rede Europeia de transportes de mercadorias, passará por Évora e em principio aqui terá uma estação técnica. Os empresários defendem que esta linha ferroviária permitirá às empresas importar e exportar as mercadorias a um custo mais baixo e assim tornar a nossa economia mais competitiva. Por isso, é uma boa notícia para todos os empresários, tenham eles âmbito local, regional e/ou nacional. Todos, portanto, beneficiaremos desta infra-estrutura
Contudo, nestas coisas há sempre um lado que não é bem visto, ou mesmo, ser do desagrado de um grupo considerável de pessoas. O traçado urbano proposto pelo governo isolará vários bairros, o da comenda e do 25 de Abril, são exemplos disso. E, a mobilidade das pessoas que aí residem ficará afectada. Quanto julgo saber, não estão previstas passagens de níveis desniveladas para o acesso de automóvel a esses bairros.
Por outro lado, estão previstas 60 composições diárias e algumas delas transportando mercadorias perigosas e no caso de acidente, dado a proximidade do traçado à malha urbana da cidade de Évora, estarão em risco permanente. Por conseguinte, o Governo ainda está a tempo de emendar a mão, e rever a proposta inicial e ponderar uma solução que vá ao encontro de todos.
Relativamente, ao assunto de carácter nacional irei ser poupado nas palavras tamanha é a minha incredulidade sobre o sucedido. O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, terá acordado verbalmente com um amigo para este representar o Estado português nas negociações com a Transportadora Aérea Portuguesa a propósito da “reversão” do contrato da venda do capital da TAP a privados celebrado pelo anterior governo. Assim, o contrato verbal que o primeiro-ministro celebrou com o amigo e jurista, na minha opinião não tem cobertura legal, pelo que não existe.
Porém, o mais relevante neste assunto não é a questão jurídica, reside na falta de percepção do actual primeiro-ministro de que tudo o que decide deverá observar as regras formais de um Estado de direito. A formalidade, portanto, deverá ser a regra dos Estados democráticos e civilizados. O contrário disto é a anarquia, e, a “república das bananas”, seria o nosso modelo. É isso que pretendem? Eu não, muito obrigado.
José Policarpo (crónica na rádiodiana)