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A cidade e as árvores (acerca do debate de ontem sobre as árvores cortadas no Bairro Frei Aleixo)

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Plátanos podados

Árvores cortadas em Évora no Frei Aleixo

Teve lugar ontem o debate organizado pela Associação “Colecção B”, com iniciativa de Fernando Moital e Miguel Cintra, a propósito do abate de algumas árvores numa rua do Bacelo. Ambiente cordial, as pessoas escutaram o que as outras tinham para dizer, ninguém ficou sem poder exprimir-se. Presentes estavam também a presidente da Junta de freguesia do Bacelo e o presidente da CME, Dr. Pinto de Sá.
A questão inicial – devia-se ou não abater aquelas árvores – desembocou em duas vias: as razões invocadas por aqueles cidadãos que solicitaram à CME o abate, e por quem decidiu realizá-lo, por um lado, e o próprio processo de consulta, de participação e de decisão.
A primeira tem que ver com o lugar das árvores na cidade: que árvores (espécie), em que sítio são plantadas (passeio? Faixa de rodagem?), os efeitos das raízes sobre as estruturas existentes (muros, perfil dos passeios, canalizações de água, gás, etc.). O que foi exposto mostra uma divergência profunda entre os vizinhos imediatos das árvores e os defensores das mesmas. Os vizinhos apontam para empedrados levantados pelas raízes que tornam certos passeios impraticáveis, pelo estreitamento dos passeios pelas cladeiras, pela acumulação de folhas nos seus quintais, nos ramos que caem sobre as viaturas por não serem as árvores devidamente podadas, etc., etc.
De acordo com as pessoas favoráveis ao abate, um dos problemas que a presença daquelas árvores naqueles locais agrava (problemas que têm também outras causas) é o da mobilidade. As pessoas com mobilidade reduzida não podem utilizar uma cadeira de rodas naqueles locais e são atiradas para a faixa de circulação automóvel, o mesmo acontecendo com os carrinhos de bébé e os peões com dificuldades de locomoção.
Os oponentes ao abate invocam a necessidade de ter sombras nas ruas especialmente durante o Verão, o efeito paisagístico (estético) que produz a presença de árvores, sem falar do seu papel enquanto “sumidouros de CO2”.
A segunda linha de debate disse respeito ao processo de decisão, que os oponentes ao abate consideram pouco ou nada participativo. Colocou-se a questão da legitimidade da decisão se for fundamentada apenas na opinião dos vizinhos imediatos das árvores (e, admitamos, na percepção que eles têm dos seus interesses), tratando-se dum espaço público, dum bem público, que não satisfaz apenas necessidades dos vizinhos mais próximos, mas também duma população que utiliza as ruas e tem legitimidade para se pronunciar em qualquer arbitragem entre um conjunto de inconvenientes e o correspondente conjunto de vantagens da presença das árvores.
Os eleitos presentes afirmaram que tinham escutado com interesse as ideias expostas, e o presidente da CME explicou a posição da Câmara, admitindo que poderia ter sido feita uma melhor informação junto dos cidadãos, mas assumindo que a decisão terá sido fundamentada por estudo técnico e por uma consulta junto dos habitantes no local.
Foram evocadas as causas das inúmeras situações de conflito entre a presença das árvores e a vida quotidiana dos habitantes, e não apenas daqueles que vivem na vizinhança imediata. Certas avenidas foram evocadas como exemplos da completa inadequação dos plátanos deixados crescer sem limites, sem cuidados de poda e manutenção, com passeios esventrados, telhados entupidos com folhas, poeiras, alergias etc. Exemplos numerosos, que mostram que a convivência com as árvores não pode ser pensada em abstracto (“uma árvore está sempre bem onde está”…), mas sim em função do local exacto (passeio? Com caldeira no passeio? Perto das fachadas?). Em função, também, da espécie: será que quem decidiu há décadas plantar plátanos pensou no porte dessas árvores e nas consequências práticas decorrentes? Será que certas espécies “decorativas” exóticas estão mesmo adaptadas ao uso que delas fazemos ou esperamos?
Como proceder para remediar as situações causadas pelos plátanos na cidade, sabendo que os há que são centenários, por um lado, e que a plantação de árvores jovens para substituí-los só resultará em sombra e conforto dentre de uma a duas décadas? Uma solução apontada por alguns dos presentes foi a da substituição progressiva (uma em cada duas árvores?); outra, aliás compatível, foi a da “educação” das formas gigantes actuais (fruto do abandono da árvore ao crescimento espontâneo, sem poda de formação), procedendo à redução imediata do porte dos plátanos.
Sugeri que fosse pensado e posto à discussão pública um plano estratégico de re-arborização da cidade de Évora: pensar de modo integrado o lugar das árvores na cidade. Na minha opinião, Évora precisa de maisárvores, porque é uma cidade que certos visitantes conhecedores consideram commo exageradamente “mineralizada” (muita pedra, pouca verdura), coisa que infelizmente podemos confirmar todos os dias. E certas intervenções, como a que foi assinalada no “acincotons” e evocada de novo ontem por um interveniente, a saber, a destruição das árvores na esplanada do palácio da Inquisição, deveriam, também elas, ser proscritas.
No total, um debate cidadão cordial, aberto e certamente útil. Parabéns aos que tomaram a iniciativa.


José Rodrigues dos Santos, 
Évora, 17 de Março de 2016.

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