Começámos esta semana a receber, por assinatura, a "Visão" cá em casa. E ainda bem: este é um grande número. Por várias razões, mas também pela entrevista do ainda (está de saída) reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa. É uma entrevista extensa, de um indignado. As perguntas podiam ser mais interessantes, mas, apesar disso, as respostas são inteligentes e testemunham um discurso diferente daquele a que estamos habituados. Vou directamente a um dos excertos que achei mais relevantes. Mas não é o único.
"(...) Tem ligações partidárias?
Não. Nunca tive.Sempre militei, no sentido de participar, mas nunca fui filiado, nem tenho proximidade com nenhum partido. As questões ideológicas são importantes, mas não dirigem a minha vida. Vi este Governo com grande expectativa inicial e depois de não acertarem uma única previsão, comecei a ver uma incompetência total.
Se os seus discursos têm sucesso e os dos políticos afastam, quer dizer que eles não sabem o que os portugueses sentem?
Há muita distração e falta de consciência social.
Mas os políticos fazem discursos profissionalmente. O que se passa, então?
É o mesmo com os economistas. Estão todos errados? Não. Mas têm uma matriz. Com uma lógica, mas apenas entre eles. Muitas vezes os políticos estão fechados numa lógica do mesmo tipo.
Não era essa a matriz dos políticos.
Não devia ser.
Os políticos eram aqueles que percebiam os desejos das populações. Perderam essa intuição?
Sim. Porque a matriz do discurso político de hoje é tecnocrata, difícil de desmontar.
Qual é o contraponto?
O populismo. Não é melhor. A Europa está a ficar entre os tecnocratas e os populistas.
Entalada?
É o pior que nos podia acontecer. Precisamos dos partidos, mas que não se fechem dentro deles.
Crítica quem está na política. Não quer fazer parte dela?
Nunca me ouviu dizer isso. Houve momentos em que não sentia tanto esta obrigação de intervenção. Agora, sinto imenso. Mas há outras maneiras de intervir.
Por exemplo.
Não sei... Debates, missões como a que tive aqui na universidade, com a fusão. A vida não se esgota nos cargos. Procuro inscrever essa dimensão na minha vida: política que não é partidária. Precisamos de alargar a política a novas formas de representação. A política já não cabe nos partidos que temos".
A ler na "Visão".