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Channel: A Cinco Tons
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Tudo parece do avesso

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Eleito à primeira volta o candidato que nos foi imposto pelos patrões da comunicação social dominante, a luta diária dos comentadores voltou-se para a demonstração de que não é possível um país soberano aprovar um orçamento livre da chantagem da comissão europeia.
Bem sei que este não é o governo da esquerda. Também sei que este não é o orçamento da esquerda. Bem sei que o governo é do PS e que o orçamento é do governo do PS, mas ainda assim não posso deixar de me espantar com a atitude da maioria dos comentadores que alinham invariavelmente com a visão mais seguidista das teorias da inevitabilidade austeritária.
Tudo estava mal na proposta de orçamento. A comissão europeia iria recusar a proposta de orçamento e cada Miguel de Vasconcelos de serviço fez questão de ir envenenar a potência ocupante com as suas profecias da desgraça proferidas por um qualquer desgraçado.
Afinal a coisa não correu tão bem para os que anunciaram o dilúvio divino sobre a soberania nacional e o orçamento parece ter sido tolerado pelos guardiães das portas do paraíso neo liberal.
Para que tal acontecesse o governo teve de o piorar, de o tornar aqui e ali incongruente, de recuar nalgumas propostas socialmente mais justas e de avançar com incompreensíveis cedências à chantagem dos euroburocratas a mando da visão mais reaccionária do conceito de integração europeia.
Todo este processo vem lembrar aos mais distraídos que o caminho da libertação passa por equacionar a nossa presença nesta União Europeia que faz da integração uma espécie de colonização dos tempos modernos, umas vezes simpática outra vezes de rosto fechado,
Não sabemos o que vai acontecer no debate sobre o orçamento na Assembleia e se o governo irá aceitar propostas que tenderão a melhorá-lo ainda que constituam um desafio a uma União Europeia que aposta tudo no reforço da austeridade tendo como alvo os rendimentos do trabalho.
Mas uma coisa é certa. Os comentadores continuarão a fustigar todas as opções que não se enquadrem na visão tosca e alinhada pelas perspectivas de um governo que já não é e continuarão a criar a artificialidade com que pretendem convencer os mais incautos de que piorou… o que se pretende melhorar.
E tudo isto por causa de um governo do PS com um orçamento de um governo do PS. Imagine-se o que seria se se tratasse de um governo de esquerda, com uma política patriótica e de esquerda e um orçamento de ruptura com os ditames dos donos europeus disto tudo.
Veremos que tempos se seguem a estes tempos estranhos. Uma coisa é certa, podem torcer os números, inventar propostas e contrapropostas e até espalhar o veneno da intriga palaciana, que dificilmente conseguirão matar a centelha de esperança que nasceu da derrota que sofreram em 4 de Outubro.
Assim todos cumpram os compromissos assumidos.

Eduardo Luciano (crónica na radio diana)

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