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Pós-presidenciais: "e agora, PCP?", de Paulo Barriga, no Diário do Alentejo

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Beja
E agora, PCP? 

Os candidatos presidenciais apoiados pelo PCP costumam ter alguma saída no distrito de Beja. Mesmo quando são inventados em exclusividade para preencher os tempos de antena que a Lei Eleitoral faculta, como acontece de forma ininterrupta desde 1986. Altura em que, pela última e também talvez pela primeira vez, o PCP acreditou verdadeiramente na eleição de uma figura do seu campo político: Salgado Zenha, em segunda opção após a desistência do candidato oficial comunista, Ângelo Veloso. 
A coisa, na altura, correu mal, mas menos mal. Os portugueses não escolheram Zenha para ir à segunda volta com Freitas. Escolheram Soares. Engolido o sapo, desde então, o caminho do PCP rumo a Belém tem sido sempre trilhado por conta própria. De forma autónoma mas sem grande entrega. Com apoios declarados de forma oficial a figuras proeminentes da estrutura interna ou, como foi agora o caso, a personalidades emergentes no interior do aparelho. 
Por conseguinte, há 30 anos que as Presidenciais se transformaram num caso sério e bicudo para o PCP. Como vai invariavelmente a votos e como nunca está, de facto, interessado neste tipo de eleições, as Presidenciais para o PCP são sempre uma de duas coisas e qualquer delas bastante arriscadas: um referendo à sua liderança ou uma sondagem à sua base tradicional de apoio. 
O resultado eleitoral de Edgar Silva, como quem não quer a coisa, fez soar o alarme nos dois campos, ao mesmo tempo. Ao nível da liderança, o PCP está a braços com o pior escrutínio eleitoral da sua história. E ao nível das bases, junto do tão clamado “fiel eleitorado “, nunca o atrevimento foi tão grande. Mesmo no distrito de Beja, onde os candidatos presidenciais do PCP costumam ter alguma saída, o resultado de Edgar Silva foi penoso. 
Pela primeira vez um candidato comunista não venceu em nenhum dos 14 concelhos. Ficou atrás de Marisa Matias em Odemira, Almodôvar e, imagine-se, em Castro Verde, onde a câmara é e sempre foi CDU. Perdeu para Marcelo no grande bastião de Serpa. E, no conjunto do distrito, ficou para lá de Marcelo e de Sampaio da Nóvoa, tendo perdido mais de 10 por cento dos votos que Francisco Lopes havia conseguido em 2011, ano em que a abstenção até foi mais elevada. 
A realidade dos votos trouxe a esta eleição distrital de Edgar Silva e do PCP uma dureza tal que nem nos mais criativos assaltos de ficção seria possível conceber. É natural que os analistas concentrem a sua atenção na hecatombe do PCP a nível nacional. Nas consequências nefastas que a assinatura dos acordos de regime com o PS poderá ter infligido aos militantes mais empedernidos. Na deslocação útil do voto comunista para Sampaio da Nóvoa ou até para as meninas do Bloco. Não é fácil contornar tamanha evidência quando a fasquia do PCP (e de algum PS) desceu ao nível de Tino de Rans. Sim, o resultado que o candidato apoiado pelo PCP alcançou no todo nacional é preocupante, muito preocupante, aliás. Tão preocupante que nem deu para o Estado comparticipar os autocolantes da campanha. 
Mas é no distrito de Beja, onde o PCP continua a ter se não a maior, pelo menos uma das suas grandes bases de apoio, que o resultado comunista é mais penoso, para não dizer inquietante. É que este é o distrito onde oito das 14 câmaras são lideradas pelo partido. Onde mais de metade das freguesias são vermelhas. Onde há e sempre houve fidelidade histórica em relação ao voto no PCP, algo que vai e sempre foi muito para lá da simples militância partidária e da própria ideologia. O que aconteceu então a este património histórico e cultural cuja chama o PCP alimentava no distrito de Beja e que agora parece ter deixado apagar? É uma pergunta tramada, mas é a ela que os líderes comunistas, locais e nacionais, têm de dar resposta. Rapidamente e em força. PB


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