Quantcast
Viewing all articles
Browse latest Browse all 2337

Conversa sobre a cultura: será desta que o Salão Central é recuperado?


Ontem assisti (e participei) na "conversa" organizada pela Colecção B, na Igreja de São Vicente sobre as ideias para a cultura em Évora trazidas por um conjunto de cidadãos. Inicialmente estava previsto um debate sobre as propostas culturais das diversas candidaturas e todas terão sido convidadas para esse efeito. O PS disse que só participa em debates depois da formalização oficial das candidaturas e, pelo que se sabe, o PSD nem sequer respondeu. Daí que a Colecção B tenha convidado os cidadãos, que o quisessem, para aparecerem na"conversa"e apresentarem as suas ideias e propostas sobre este tema.
Comparecemos ao encontro cerca de 30 cidadãos. Alguns fazendo parte das listas candidatas à Câmara, outros não. Candidatos nas listas à autarquia estavam Carlos Pinto Sá e Élia Mira, da CDU, e Maria Helena Figueiredo, do Bloco de Esquerda.
Das muitas intervenções (mais espaçadas ao príncípio, mais animadas ao fim) ressaltaram duas ideias: é preciso que quem vença as eleições tenha uma nova, diferente, transparente e honesta relação com os agentes culturais, uma vez que o actual executivo os tem tratado "abaixo de cão" e, mais do que ouvir os agentes (sejam culturais, desportivos, sociais, etc.) é necessário envolvê-los na definição das políticas para cada um destes sectores.
Apesar de algum consenso - é necessário alterar o rumo que os assuntos culturais e patrimoniais têm tido em Évora nos últimos 12 anos - notou-se também alguma diferenças de olhar: o sector mais próximo ao PCP e também ao Bloco de Esquerda defende uma intervenção mais activa da Câmara enquanto promotor cultural, enquanto que outras vozes (a minha, por exemplo) defenderam a acção da Câmara mais como "facilitadora" da acção dos agentes culturais do que como promotora de iniciativas. Ressaltei, por exemplo, o perigo do dirigismo em termos culturais, onde as Câmaras assumem um "discurso" ideológico próprio que (com razões fundamentadas ou não) impedem a criação e a inovação artísticas que, por norma, são sempre anti-poder e anti-sistema. Por outro lado, numa cidade da dimensão de Évora é dificil falar em Cultura. Não me parece que isso exista: o que existem são culturas, muitas delas minoritárias, outras experimentais, outras que estão a nascer e que só o tempo vai sedimentar... O "arco cultural do sistema"é vasto e integra desde o rap contestário ao Tony Carreira de todos os amores. Todos fazem parte da sociedade do espectáculo, que não é necessariamente cultura. 
Daí que as intervenções também tivessem sido diversas, mas com pontos em comum. Um deles é que uma parte dos nossos impostos tem que ser destinada a pagar o serviço público que muitos destes grupos prestam à colectividade em que se inserem. Mas tem que ser um pagamento com regras e com critérios, também transparentes, claros e sem quebra das regras do jogo - já não se pode aceitar que os apoios sejam dados segundo a cor política ou o pagamento de favores por parte do poder político aos agentes, sejam eles culturais, desportivos, etc., como tem acontecido até aqui (pelo menos enquanto havia dinheiro).
Évora é uma cidade de muitas multiplicidades e o património arquitectónico é importante. O património e o centro histórico também foram referidos, enquanto componentes culturais relevantes da cidade, e acentuada a necessidade dele ser preservado, nomeadamente através da feitura, revisão e melhoria de Planos de Salvaguarda desse mesmo património classificado e do uso de instrumentos de apoio à reabilitação urbana.
No final, Pinto Sá e Helena Figueiredo fizeram uma pequena sintese daquilo que irão ser os seus programas relativamente à cultura. Pinto Sá realçou que a cultura em Évora tem que voltar a ser encarada como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento da cidade e que irá chamar os agentes culturais para que, em conjunto, sejam definidas as opções a tomar e que sejam eles a definir as políticas para a cultura, o que evitará também qualquer laivo de "dirigismo". Pinto Sá disse também não ver inconveniente em que a Câmara assuma um determinado protagonismo numa área que não esteja coberta por iniciativas da sociedade, mas assim que haja agentes a desenvolverem actividade nessa área, a Câmara deve retirar-se.
Maria Helena Figueiredo não se afastou muito deste discurso. Disse que a Câmara deveria definir três ou quatro momentos de intervenção que fossem marcantes e deu como exemplos a realização de grandes eventos relacionados, por exemplo, com a fotografia, com a arquitectura ou com a paisagem. Defendeu, por outro lado, que os concursos para a atribuição de apoios por parte dos agentes culturais deveriam ser públicos, ou seja, as candidaturas deveriam ter uma apreciação por parte da sociedade, de forma a que houvesse maior clareza na atribuição de qualquer dinheiro público.
No final, e à pergunta de que se a recuperação do Salão Central era uma prioridade para qualquer das candidaturas, quer Helena Figueiredo, quer Pinto Sá disseram que sim, com o candidato da CDU a acrescentar, no entanto, que essa era uma promessa que não poderia fazer até estar definido o quadro de actuação da Câmara - que devido ao PAEL fica sujeita a mecanismos estreitos de investimento, alguns deles apenas possíveis com autorização ministerial.
Três notas a terminar:
1) foi pena que o PS, pelos motivos conhecidos, e o PSD não tivessem estado presentes nesta conversa que começou "fria", mas foi interessante;
2) tornaram-se algo monótonas as "sínteses" e "explicações" de José Alberto Ferreira, da Colecção B, responsável e moderador do debate, depois de cada intervenção, assumindo-se quase como "palestrante" (e não foi para isso que a generalidade das pessoas se deslocou à Igreja de São Vicente);
3) apesar de não ter dito nem uma palavra, a presença de Élia Mira, a nº2 da lista da CDU, que acompanhou Pinto Sá, foi vista por alguns dos presentes como indicadora de que poderá ser, caso a CDU vença as eleições, a responsável pelo pelouro da cultura. Isto, curiosamente, quando há uma semana atrás Eduardo Luciano, actual líder da coligação na Câmara, e nº 3 na lista às eleições de Setembro, que não esteve presente no debate, dedicava a sua crónica na rádio Diana, a Évora "Cidade de Cultura". Dois candidatos a um mesmo pelouro?

Viewing all articles
Browse latest Browse all 2337