Já o disse antes, e confirmo-me essa opinião, que os tempos no mundo da Política portuguesa estão em mudança. O que dela resultará é o que interessa aos mais distraídos ou aos que conscientemente se querem ver afastados do quotidiano deste mundo.
O que faz quem vive estes momentos, como numa decisão real de decidirmos que caminho tomar numa encruzilhada, é escolher o que se entende ser o melhor para que se chegue a algum lado, numa rede de vontades, possibilidades e disponibilidades. Parece-me que no Mundo em geral, esse a que o bom velho Shakespeare chamou um palco, misturando-lhe a Vida com os atores a entrarem e a saírem de cena a seu tempo e representando os seus papéis, os cidadãos comungam de um juízo apriorístico relativamente aos atores políticos independentemente do texto que sobe à cena. E a honestidade não entra, pela positiva, nesse juízo, o que mais do que levar à procura de culpados para que assim seja, resulta logo num prejuízo para todos. Quanto mais não seja porque leva aos que o são, os honestos portanto, muito mais energias a prová-lo quando poderiam a estar a aplicá-la ao serviço dos outros e não na defesa da sua própria identidade e honra.
Sobre a honestidade e a sua adaptação infeliz quando há entre os indivíduos pouco saudáveis relações de poder (e dinheiro, sim, o dinheirinho que faz girar o Mundo mas também põe tudo de “pernas para o ar”), o Vergílio Ferreira, que dividia muito mais a sociedade em classes pela existência dos indivíduos que a compõem enquanto Homens que são e não pelo que têm, ou seja por valores e não por preços, afirmou: «A honestidade é própria das classes médias. As de baixo não a ignoram, mas não sabem para que serve. As de cima não a ignoram, mas não sabem para que ainda serve.»
Mas voltemos à metáfora shakespeariana e pensemos em aplicá-la ao mundo da atualidade política. Eu deixo a ideia e os meus caros ouvintes e leitores farão o exercício de a pensar e aplicar ao que lhes interesse, se estiverem para aí virados. Como num palco, também aqui se adaptam os textos definidos e decididos por quem encena, de acordo com quem escolheu ou podia ter escolhido para tal, e o levará ao público que são, também esses mas, todos os outros. E aqui, nestes momentos iniciais, projeta-se a encenação, preparam-se os atores, ensaiam-se todas as artes e técnicas, naturalmente e como tem de ser no recato sem espectadores, para se proporcionar a esses mesmos espectadores, que são a razão de ser de tudo aquilo, algo de útil… até mesmo a felicidade de cada um.
Nos ensaios haverá muitas situações que o espectador desconhece e que apenas dizem respeito a quem lá está, a trabalhar antes que o pano suba e se prepare o que interessa, o resultado final. É para estes bastidores que alguns tentam espreitar para conhecer o making of e essa impossibilidade gera a especulação. Se as há, a esse tipo de especulação, que criam expectativas que nos fazem ser melhores espectadores, também as há que estão mais interessadas em desviar as atenções e tirar antes mesmo da estreia o valor àqueles que como os espectadores pagaram bilhete para assistir e julgar, com argumentos, se é bom ou mau ou assim-assim e se há ou haverá quem faça ou faria melhor para o deixar satisfeito.
Ora são muitas vezes esse tipo de especulações com agenda própria que levam a que bons textos, com determinados encenadores, atores e técnicos acabem com salas vazias e outros, não forçosamente melhores, sejam sucessos de bilheteira. Mas é quando “chega uma companhia nova à cidade” que temos a oportunidade de, sem pré-conceitos, ajuizar do seu valor e, já agora, arrumar onde têm de ser arrumados os paparazzi com ambições de fazedores de opinião, o que não é a mesma coisa que ser um comentador.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira (crónica na radio diana)