ERA UM VULGAR FUNCIONÁRIO DE CÂMARA
aprendeu a falar, facilmente passou da fala ao discurso
interiorizou os gestos e a pose, o menear dos braços
aprendeu a falar, facilmente passou da fala ao discurso
interiorizou os gestos e a pose, o menear dos braços
engordou
veste razoavelmente - subiu na vida a pulso - gosta de afirmar
acaba de entrar no Restaurante onde estou à espera que me sirvam uma canja de galinha e um bitoque
passo firme, bem direito como um poste telefónico, mãos nas ilhargas sob um casaco castanho desabotoado
é grande a prole - duas filhas e um rapaz, e a mãe, aguardam todos que o patriarca tenha escolhido a sala e os lugares para o jantar
a prole aguarda com paciência a ordem do maior
conhece-me bem - de ginjeira - passa por mim 3 vezes, na azáfama de eleger lugar para o repasto
levantando a cabeça e ajeitando as mãos que mantinha nos quadris
levantando a cabeça e ajeitando as mãos que mantinha nos quadris
a prole segue-o a um gesto hierárquico e solene
e eu escrevo no meu inseparável guarda-factos
não querem lá ver: ESTE GAJO ENSENHOROU
António Saias (aqui)