Escrevo esta crónica no dia em que é dado à estampa o anuário financeiro dos municípios portugueses. Para além dos aspectos positivos relevados neste trabalho, sobretudo, de que as dívidas dos municípios, em geral, têm vindo a baixar.
Sucede, porém, que, trinta dos municípios portugueses, precisam de ajuda financeira para poderem continuar a cumprir com as suas obrigações. Sem esta ajuda não conseguirão cumprir com as atribuições e as competências que lhes estão afetas. Isto porque não têm o dinheiro suficiente para pagarem os vencimentos dos trabalhadores, aos fornecedores e aos bancos. Gastam, portanto, entre duas a três vezes mais do que aquilo que conseguem obter em receita arrecadada.
Acontece porém, que, os habitantes de Évora não devem estar descansados. Diria mesmo que a preocupação deverá ser o seu estado de ânimo geral. A Câmara Municipal de Évora encontra-se no grupo dos municípios que necessita de uma intervenção financeira e a isso está obrigada nos termos da Lei. E, esta situação surge porque a Câmara de Évora, pelo menos, nos três últimos exercícios financeiros, gastou duas vezes mais do que a receita conseguida.
Com efeito, faço a seguinte e singela pergunta. O que sucederia na vida da maioria dos portugueses, se ganhassem 10, e, se gastassem quase 25. Nem preciso de obter a resposta. Todavia, foi esta a gestão levada a cabo pelo município de Évora, em 2012, 2013 e 2014.
Por isso, tenho fundadas e sérias dúvidas de que o saneamento financeiro possa solucionar o problema financeiro da Câmara de Évora, sendo este estrutural. Para tanto, teria a despesa de comportar-se adequadamente face à receita executada. Significa isto que, se nada for feito através de reformas estruturais levadas a cabo no lado da despesa, apenas seria contrair dívida para pagar dívida. E, para aquilo que, efetivamente, as Câmara Municipais foram pensadas e concebidas, que é tratar e cuidar da qualidade de vida dos seus munícipes, isso, dificilmente será conseguido
E, no caso da cidade de Évora, preocupadamente, os exemplos não são poucos. Veja-se a limpeza e o estado das nossas ruas e das travessas. Veja-se o estado degrado de uma parte considerável do edificado e do casario do centro histórico. Veja-se a qualidade da iluminação da nossa cidade. E, não ficaria por aqui na enumeração dos casos.
Por último. Referir que não tenho por hábito fazer comentários a frases que considero menos conseguidas ou totalmente desprovidas de qualquer sentido, mas na qualidade de alentejano e Eborense não posso, nem devo deixar de repudiar a frase inserta na crónica publicada pelo Eurodeputado Carlos Zorrinho no diário do sul, na parte que afirma que o PS é o partido dos Alentejanos. Talvez o cronista ignore, mas só um eleitor em cada três votou no partido socialista, pelo menos no distrito de Évora. O Alentejo não tem partido. Precisam, no entanto, os alentejanos é de terem voz e de quem os saiba valorizar, quer seja no contexto nacional, quer seja e sobretudo no contexto internacional.
José Policarpo (crónica na rádio diana)