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"É difícil fazer um homem entender algo quando o seu salário depende de não o entender"

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óleo de Vuk Jevremovic  aqui
1. A força da desigualdade de acesso
A extrema desigualdade na distribuição da riqueza, e no acesso a todos os outros poderes está na origem da crise. E reproduzi- la-à em tempos e formas futuras, como nos garante a História. É o que retiro do que escreve hoje o economista e jornalista Joaquim Estefania no El País, num artigo intitulado "uma época obscura" para que me chamou a atenção o Prof. Silvério Rocha e Cunha aqui
Se é mais ou menos claro o termo distribuição de riqueza, o mesmo pode não acontecer quando se fala no acesso a outras formas de poder. No acesso a outras formas de poder, (que não as identificadas com a riqueza) inclui-se o poder de amar,de proteger, de construir, mas também as muitas formas de exercício abusivo de poder.  
As formas abusivas de poder, essas abarcam as decisões (em vez de construções) que os chefes (em vez de coordenadores) impõem aqueles a quem chamam de colaboradores;  as imposições dos pais na vida dos filhos (muitas vezes em nome de valores maiores como saúde, educação, proteção, segurança,etc);  as pressões, tentativas de convencimento, e outras formas de violência mais ou menos dissimulada, ténue ou assumida, exercida entre amigos, cônjuges e outros conhecidos e desconhecidos.
"Economistas como Paul Krugman, Robin Wells entre outros (ver Occupy Wall Street. Manual de uso, com contributos de Cassidy, Rajan, Reich, Reinhgardt, Rogoff, Roubini, Volcker entre muitos para lá dos citados. Editorial RBA) entendem que as crescentes desigualdades não são uma consequência da cise económica, mas estão sim na sua origem. (...) “A desigualdade extrema na distribuição de acessos conduziu a uma polarização politica extrema, o que acabou por inviabilizar uma resposta politica à crise." (La espiral creciente: desigualdad, polarización y la crisis, Krugman y Wells). 
A desigualdade no acesso ao respeito ou reconhecimento pelas diferente condição física psicológica, social  cultural das pessoas impede-as de se reverem plenamente, ou sentirem inequívoca pertença à categoria de humanos, ou de cidadãos. E esta é uma exclusão com custos elevados.
A uma mais ou menos explicita exclusão da categoria de humanos de pleno direito, ou de cidadãos com os mesmos direitos, estamos a responder com maiores e menores debilidades, com as mais básicas ou sofisticadas formas de força. São exemplos destas múltiplas formas de resposta, o alheamento, a solidão,  a depressão, o suicídio, mas também o desejo de suplantar o outro por quaisquer meios, incontáveis formas  de violência inusitada ou reiterada, etc.
2. A força dos silêncios
Outra questão é porque é que não se discute mais sobre estas teses tão fortes. No mesmo livro a chefe de redação do Financial Times nos Estados Unidos, Gillian Tett escreve um texto intitulado " Ocultos bem à vista" onde se centra sobre "aquilo de que não se fala", os silêncios sociais, ou os aspectos da vida diária que habitualmente se omitem ou ignoram. Ela, que se define como seguidora do sociólogo Pierre Bourdieu, cita-o assim: Os efeitos ideológicos mais profundos são aqueles que para se exercerem não necessitam de palavras e não pedem mais do que um silêncio cúmplice. Ou por outras palavras, as do escritor norte americano Upton Sinclair,"É difícil fazer com que um homem compreenda algo, quando o seu salário depende de que não compreenda." 
... e salário aqui é numerário ao final do mês, mas é também a ordem social que nos suporta.


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