Joaquim Palminha Silva |
II
Em 1846 armou-se a si próprio e a alguns mais, na sequência da popular Revolução da Maria da Fonte, oferecendo os seus préstimos à Junta Governativa que se formou no Porto. Os seus conterrâneos (diz a História ou “reza” a lenda?) quiseram elevá-lo ao posto de comandante, de chefe guerrilha, mas recusou. Data desta época o seu primeiro acto paradigmático: - Repartiu o dinheiro que possuía com os seus companheiros de luta!
A 15 de Novembro de 1846, no recontro de Valpaços, entre as tropas governamentais e os populares da Maria da Fonte, salvou a vida ao general Sá da Bandeira, o heroico “maneta”, como o vulgo o denominava. De uma moita cerrada faziam rijo fogo sobre o general; então, o José do Telhado, apercebendo-se do lance e vendo as armas apontadas prestes à descarga, empuxou fortemente as rédeas do cavalo que o seu comandante montava, obrigando-o a saltar súbito um valado, ao mesmo tempo que a descarga levou os projectéis a crivarem-se na parede, onde antes se acolhera o general. Depois, ferrou as esporas na sua montada, correu para os soldados inimigos e, desmontando um, ferindo de morte outro, acutilando um terceiro, obrigou o grupo barricado na moita a debandar, espavorido. Quando voltou, arquejando e com a lança tinta de sangue, viu Sá da Bandeira estender-lhe a mão. Após este lance, foi-lhe dependurado ao peito da farda de soldado da Maria da Fonte a comenda de cavaleiro da Torre e Espada pelo próprio general e visconde: - Foi considerado então um herói!
Este foi o “Zé-Ninguém”, aproveitado pela sociedade como José Teixeira da Silva…
Torre e Espada
Em Julho de 1847, a Convenção de Gramido põe ponto final à Revolução da Maria da Fonte (com o Governo da Rainha D. Maria II apoiado por forças militares estrangeiras). Todavia, a «Convenção…» não põe termo às contradições políticas, as quais vão ensanguentar uma vez mais a terra portuguesa. Enfim, a faceta militar e patuleiade José Teixeira da Silva tinha terminado, e o herói “medalhado” regressou a casa definitivamente… Definitivamente? A ver vamos…
A guerra civil tinham-no empobrecido, arruinado a sua pequena lavoura… Diz que pediu um emprego compatível, que solicitou auxílio… Mas as inimizades políticas granjeadas nos anos de luta fizeram-se notar, e devem ter exercido as suas tradicionais prepotências e represálias. A retaliação dos vencedores de «Gramido…» tomou o caminho da acção directa… O herói de Valpaços, o patuleia generoso tinha inimigos impiedosos… Os filhos estavem sem pão, a sua «Aninhas», por quem (“reza” a lenda) acalentava um amor acima da vulgaridade, sofria as injustiças dos senhores do lugar.
Compulsando as suas forças, deitando contas à vida, José Teixeira da Silva, a braços com hipotecas de bens imóveis que não podia mais satisfazer a tempo e horas, venda inglória de pequenas propriedades ao desbarato, etc., decidiu juntar-se ao irmão, Joaquim do Telhado, já então notório quadrilheiro que assolava o Douro…
José do Telhado, à direita, de longas barbas, fotografado com seu irmão, Joaquim
(anos 50 do século XIX).
Segundo uns quantos biógrafos, avantajados no romantismo de capa e espada, José do Telhado ter-se-á juntado ao Custódio, conhecido pelo Boca Negra, “capitão” de um grupo de aventureiros que infestavam a região.
Fosso como fosse, o primeiro assalto à mão armada terá sido efectuado à casa de um tal Maciel da Costa ou então à casa de Cadeade. A controvérsia entre biógrafos de José do Telhado torna-se habitual, quando uns querem quantificar uns assaltos e outros, por razões não menos válidas, querem enumerar outros. De qualquer modo, o assalto à propriedade do Dr. António Fabrício Lopes Monteiro, na Freguesia de Santa Maria do Zêzere, gorou-se (admitindo esta versão), mas entrou para a narrativa épica do rebelde, marcando uma data para a acção de bandoleiro social que foi José do Telhado: 27 de Novembro de 1851!
(continua)