Joaquim Palminha da Silva |
II
Muitos investigadores, eminentes historiadores e académicos brilhantes, têm-se debruçado sobre o suposto mecanismo da associação de ideiasefactos que, de uma época para outra, parecem viver existência própria no seio da História, sem contudo conseguirem chegar a uma conclusão aceitável sobre ideias e factos semelhantes, que aparecem e desaparecem na cadeia dos acontecimentos, como que obedecendo a um propósito.
Os Estados Unidos da América (juntamente com o Canadá) têm o seu percurso histórico separado e diverso da América do Sul. Enquanto os EUA são “filhos” da Europa protestante do Norte, a América do Sul é “filha” da civilização mediterrânica, de orientação claramente católica… Entretanto, deixo para os economistas as estatísticas das exportações e importações, e aos historiadores as descrições de mudanças revolucionárias, bem como a institucionalização da Democracia nas duas Américas. O que me interessa é o enigmático acaso, como capítulo da História dos EUA. Eis o que constato…
Os colonos anglo-saxónicos desembarcados na América do Norte, protestantes e intransigentemente puritanos, encontraram, com surpresa, o Novo Mundo povoado por numerosos povos ameríndios, a que o vulgo chamou depois «peles-vermelhas». Porém, os “cristianíssimos” protestantes, incapazes de familiaridade com o outro, o diferente, ao contrário da missionação católica (por exemplo, dos padres Jesuítas!), não descansaram enquanto não rechaçaram dos seus territórios, perseguiram, dizimaram, massacraram os «peles-vermelhas» - Assim ocuparam os imensos e maravilhosos territórios dos ameríndios!
Praticamente ao mesmo tempo, os mesmos colonos, sobretudo os que possuíam grandes plantações de algodão, adquiriram aos traficantes de escravos, que “caçavam” as populações das costas de África, verdadeiros exércitos de negros que se foram multiplicando nas plantações e, após a abolição da escravatura, povoaram as cidades como assalariados sem especialização, nas grandes unidades industriais…
Hoje os «peles-vermelhas» estão reduzidos e acantonados como mera população pitoresca e, para efeitos de mercado, são levados a “viver” no cinema, sem respeito pela sua História, uma existência de “banda desenhada”. Entretanto, a população negra aumentou e, naturalmente já norte-americana, viu serem-lhe negados os direitos democráticos de que gozavam os brancos…
Enfim, podemos afirmar que os EUA representam um dos acasos mais evidentes e singulares da História do continente americano, pela sua intrínseca e desapiedada desumanidade: - Primeiro suprimiram os «peles-vermelhas» para lhe ocuparem o território; depois, como necessitavam de multidões para trabalhar, “importaram” de África exércitos de escravos negros, a quem, depois, recusaram sistematicamente direitos e liberdades.
Este descaramento de desumanidade, capítulo de evidente maldade nos anais da Históriados EUA, acabou por se concluir com um feliz e espectacular acaso, que também pode ser encarado como uma enigmática remissão: - A 56ª eleição presidencial (2008), elegeu para presidente o senador Barack Obama; isto é, o 44º presidente dos EUA é um negro!