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O que é a História? (acasos em folhetins?)

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Joaquim Palminha da Silva
I
            Há pessoas que acreditam que se pode ensinar História, como se esta fosse um laboratório a funcionar em pleno, repetindo experiências que, pelo rigor das fórmulas empregues, resultam sempre idênticas…
            Surgiu-me a ideia de História, a propósito das recentes declarações do ministro francês da Economia, Emmanuel Macron, que ao falar da crise económico-financeira da Grécia, afirmou que a França não será cúmplice de um «nouveau traité de Versailles». Este tratado aconteceu em 1919, após a derrota da Alemanha na I guerra mundial (1914-1918). Na prática, os Aliados (França, Inglaterra, Bélgica, etc.) impuseram ao país vencido pesadas indemnizações e reparações materiais, impossíveis de concretizar, dado o estado de completa ruina e destruição da Alemanha. O resultado desta humilhação foi o nascimento de um nacionalismo exacerbado, que deslizou para o nazismo com as trágicas consequências que todos conhecemos… - Enfim, os estadistas de hoje julgam que a História se pode repetir, assim, sem mais nem menos!
Os estudantes e os futuros homens de Estado, fariam muito melhor em manusearem com cautelosa precaução a série infindável de narrativas históricas, em vez de acreditarem em supostas “leis”, “regras” e “ritmos” próprios da História. Eis, pois, os acasos que fazem da História uma série de folhetins sem continuação, sem racionalidade intrínseca e, no fim, uma continuada incógnita!
            Quando o comandante militar britânico Arthur Wellesley, futuro duque de Wellington, entrou em Madrid em 1812, após ter vencido os exércitos napoleónicos que estacionavam na Península Ibérica, encontrou vários “incómodos” simpáticos que as autoridades espanholas lhe reservavam, um deles sobrepunha a todos: - Ter de “pousar” horas e horas face a um pintor, para um retrato a caminho da posteridade!
            O artista indigitado pelas autoridades para o retratar foi, vejam lá, o genial e já famoso Francisco Goya, que não sabia inglês e era surdo. Apenas por cortesia e cavalheirismo britânico, o general acedeu a fazer de modelo, dado que não apreciava muito os artistas dos pincéis… E os intermináveis dias de sessões no “atelier” de Goya seguiram-se, até cobrirem de impaciência o general. Porém, um dia o inglês explodiu zangado com qualquer pormenor do retrato que não lhe agradou, e desfechou desdenhosos impropérios…Goya nada entendia, mas conhecia bem as fisionomias humanas e, orgulhoso, percebeu que o inglês o humilhava e, assim, empunhou uma das pistolas que tinha sempre à sua beira, e apontou-a ao vencedor de Talavera. O general levou a mão à espada e levantou-a em sinal de defesa… Não se sabe bem o que aconteceu (talvez alguém tenha acorrido!), mas depois de se olharem nos olhos, Goya e Wellesley retornaram à tranquila normalidade do trabalho.

            Se porventura Goya houvesse disparado, assim, à queima-roupa, liquidando o general inglês naquele ano de 1812, que é que teria acontecido nas planícies da Bélgica, em 1815? A batalha de Waterloo teria sido vencida pelas tropas inglesas e prussianas? O “destino” de Napoleão Bonaparte não terá estado suspenso, dependente da pistola de Goya apontada ao general inglês? Não foi este facto um acaso, portanto desobediente às “leis” históricas?  



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