Joaquim Palminha da Silva |
Trago imprensa no fundo da minha alma a agonia que fisicamente me atormenta. Talvez por isso, todos os dias travo uma luta de contradições religiosas e, enquanto me atolo nelas, há uma voz interior que me sussurra: «Depois disto tudo, o que se segue?» …
Não quero, porém, seguir o caminho que os simples e os ingénuos chamam de esperança, bem como o que escolhem os acomodados que se ludibriam a si próprios, vivendo da religião apenas o seu ritual, os sermões de circunstância. Não simpatizo com catecismos que, desnudados, são apenas um marketing pobre para consolidar a fédos crentes fáceis de contentar… Desde de que tudo na vida corra mais ou menos bem!
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Há ainda quem teime em afirmar que a existência de Deus, e tudo o que lhe é intrínseco, é um problema estritamente individual. Não o creio! – Só quem apascenta nas raízes da alma um orgulhoso pretensiosismo, pode atrever-se avançar com tal ideia. Deus, e tudo o que O envolve, é um problema Universal.
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Depois de S. Tomás de Aquino e da sua Suma Teológica (século XIII), do livre arbítrio, nunca percebi como pode ser aceite como altamente cristã a ideia absurda, divulgada por alguns livros de devoção, e impressa na mentalidade corrente dos católicos dos nossos dias, segundo a qual Deus manda desgraças e malefícios àqueles que mais ama.
Quando a vida material se transforma em contínuo sofrimento físico, o Homem que concebe Deus como infinitamente bom e justo, resolve atribuir-lhe sentimentos humanos e, assim, de uma forma doentia e distorcida, inquieto face aos males tremendos que o martirizam, acaba por “responsabilizar” Deus pela existência de um sentimento caritativo de “pernas para o ar”!
Mas o Homem, insensato e estúpido, presumindo o que Deus sente ou deixa de sentir pelos que sofrem, nem se apercebe que “limita” Deus, ao pretender que Ele “viva” com sentimentos, como fosse humano!
O Homem é muito talentoso, mas desgraçadamente costuma ser também um cabotino execrando: - “Fazer” de Deus o nosso maior plagiário!
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Como cada um de nós tem conceitos, sentimentos, pensamentos e interesses diversos e por vezes opostos, torna-se claro, portanto, que o “deus” de cada qual, imaginado assim à “imagem e semelhança” das necessidades de cada um, tem tantos “desempenhos” universais quantos são aqueles que o imaginam: - Isto é, um “deus” aparecido/desaparecido segundo a vontade de cada um não significa absolutamente nada!
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Apesar de ter uma admiração extraordinária pelos judeus, povo já então muito “velho” quando as pirâmides egípcias começavam a erguer-se, não consigo deixar de rejeitar algumas das suas interpretações de Deus, nomeadamente as contidas na Bíblia. Sobretudo aquelas que envolvem a pretensa explicação da enigmática existência deste povo ao longo de milénios e milénios.
Em poucas palavras… Não consigo aceitar que o Criador de biliões de galáxias houvesse podido alguma vez estabelecer um pacto exclusivista, e tratar de igual para igual, com uma pequena tribo de nómadas do deserto do Sinai. Mais: - Umas vezes manifestar-se aqui e ali mal-humorado com a conduta idólatra destes nómadas; outras vezes, satisfeito com o seu comportamento moderado e piedoso, entregar-lhe um manáou rasgar ao meio o Mar Vermelho, para que os nómadas o passassem a pé enxuto…
Aliás, penso que a crítica pregação de Jesus Cristo acabou com a ideia de que existia este exclusivismo (aliás com o seu quê de xenófobo) em relação aos judeus. De resto, o massacre de seis milhões de judeus durante a II guerra mundial, sem qualquer espécie de intervenção divina,constitui para mim a prova provada da não existência de qualquer pacto entre Deus e o povo judeu e, suplementarmente se assim o quiserem, a evidência de que o livre arbítrio não é apenas uma figura de retórica de S. Tomás de Aquino!
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Estejam atentos aos poetas!
Os gatos, dizem-me, apercebem-se dos terramotos muito antes de nós, pobres humanos…
Os poetas são os felinos dos acontecimentos futuros…
Hoje observamos que as ideologias (mais ou menos religiosas) se transferem muito rapidamente do papel impresso para a verdade do espaço geográfico e tempo actual…
Possuímos uma prova: - A obra Os Demónios (1867) de Dostoiewsky já anunciava a existência de extravagantes teorias terroristas… Com o andar do tempo o seu anúncio foi esquecido, infelizmente!
O tremendo fundamentalismo “islâmico” de hoje, pode ser a véspera do suicídio de uma parte da Humanidade!
Este fundamentalismo religioso usa o nome de Deus, como seu privado e “supremo” carrasco, para justificar o crime e o suicídio!
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Há muito tempo atrás, numa Índia em catarse e luta pela independência, o Mahatma Gandhi dizia que … Deus não tem religião!