"Temos vindo a assistir a um constante processo de amputação e desagregação do Hospital de Beja, numa lógica conducente a reservar-lhe um papel apenas residual na prestação de cuidados de saúde no nosso distrito. Certamente, tal situação não seria a que melhor serviria a população do Baixo Alentejo.
Diz-me a minha intuição que foi algures concebida uma estratégia visando retirar financiamento à Saúde no nosso distrito. Numa lógica de capitação, foi reduzida a população assistida: primeiro a do concelho de Odemira, depois os da margem esquerda do Guadiana.
Na sequência das “amputações”, indaguemos se os lóbis terão força para retirar mais um concelho a norte e outro a sul. O Baixo Alentejo seria “esquartejado”, ficando apenas a zona central, para o que bastaria ter um “hospitalzinho”.
Numa lamentável sucessão de irracionalidades e degradação (em que podemos classificar 2013 como o ano da capitulação), tudo sugere um “empurramento” direcionado para uma situação de factos consumados, de obsolescência e downsizing. Do nosso lado, os excessos de expectativa e “prudência” resultaram em menorização das capacidades de resistência a essa ofensiva contra o Hospital de Beja.
Factos como o adiamento sine die da renovação do parque tecnológico, a redução forçada de camas e a inviabilização de valências, parecem visar a que um “pequeno Hospital de Beja” antes de o ser já se configure como tal. No limite, essa seria uma situação comprometedora para a prestação de cuidados de saúde de qualidade e acessíveis a todos os utentes do nosso distrito.
Finalmente, esclareço que considero que o projeto de construção de um Hospital Central para o Alentejo interessa consensualmente a toda a população da Região. No entanto, no meu entendimento o conteúdo funcional de tal projeto tem de ser - imprescindivelmente e desde já – compatibilizado com a qualidade dos cuidados hospitalares no distrito de Beja."
Munhoz Frade, médico, Beja (aqui)