Pouco me importa, do ponto de vista a que agora vou obedecer, a orientação política e o conteúdo ideológico do presente executivo Autárquico de Évora. Importa-me muito mais a natureza essencial dos métodos adoptados (ou ausência deles) no trabalho de gestão urbana da cidade, se assim posso dizer.
Passaram 13 anos desde que findou (2002) o ÉVORACOM (Projecto Especial de Urbanismo Comercial-Revitalização do Centro Histórico de Évora), pelo que é mais que tempo de concluir alguma coisa…
Com uma área (centro histórico) total de 9 hectares a ser intervencionada, após «diagnosticadas» as carências supostamente mais urgentes de solucionar, os técnicos da época, necessariamente com a concordância dos autarcas, chegaram à conclusão de que as acções a levar a cabo implicavam (entre outras medidas): implantar um sistema de enterramento do vasilhame com o lixo urbano e sua recolha; melhoria da iluminação geral e cénica (monumentos); renovação do mobiliário urbano; enterramento de infraestruturas (tubagem do gás, etc.); regulamentação da publicidade; alteração dos horários de abertura do comércio; melhoria do atendimento ao público.
Autarcas, técnicos superiores e especialistas em serviço na Câmara Municipal de Évora, acreditariam seguramente na época que a situação da cidade não era ainda desesperada, embora fosse crítica… (Hoje, além de crítica é desesperada!)
A forma como trabalharam deixou ver claramente quanto acreditavam na existência duma «dinâmica permanente» dos centros urbanos. Todavia, ignoraram que essa dita «dinâmica» pode ser a da acelerada decadência… Vejamos…
As suas decisões resumem-se desta forma, alinhando-se a seguir os resultados práticos, passada mais de uma década:
1) Promessa do ÉVORACOM: Diminuição de utilização da Praça de Giraldo para actividades públicas, por forma a restitui-lhe a sua função primordial de «sala de visitas» por excelência da cidade.Actualidade: descaracterização da Praça, uso e abuso do seu espaço, tabuleiro central incluído, para promoções publicitárias avulso, , com sons acima dos decibéis aceitáveis, desrespeitando a Lei; degradação dos edifícios circundantes (nalguns casos com risco para integridade física dos transeuntes); inqualificável desleixo na conservação da calçada; abandono da preservação do exterior da igreja de Santo Antão; serviços de cafetaria e esplanadas excessivamente caros, de má qualidade e a requerem inspecções dos agentes da especialidade;
2) Promessa do ÉVORACOM:Revitalização da Praça Joaquim António de Aguiar, regressando ao conceito do jardim, etc.. Actualidade: Completa negação do conceito de jardim; em vez disso um espaço armadilhado com escadas e desníveis de terreno sem protecção, demasiado perigoso para a frequência de crianças, idosos e pessoas com deficiência física; suplementarmente, sob um relvado exorbitante (apenas usado para dejecção de fezes caninas), construção de um parque automóvel subterrâneo, com uma única entrada que… é também a única saída do espaço!
3) Promessa do ÉVORACOM:Revitalização da Praça 1º de Maio e requalificação do Mercado Municipal. Actualidade: Completo fiasco da dita revalidação da Praça 1º de Maio, com a paulatina desistência dos agentes nas “feirinhas” propostas; Completo assassínio do Mercado Municipal, desde a construção, com uso estapafúrdio de alumínios desajustados no espaço envolvente, ao desinteresse dos comerciantes de banca, que debandaram face aos preços de aluguer de espaço e falta de clientes…
E poderia continuar… Porém, o mais trágico, foram as profundas escavações efectuadas junto às Arcadas e suas colunas de suporte, de forma a proceder ao enterramento de cabos e condutas de gás. Na altura, escrevi no Diário do Sulalgo sobre isso, chamando atenção para o risco de mexer na base das colunas, assente sobre um piso compactado há séculos… Mas é claro, especialistas e autarcas devem ter rido do que então disse … As fendas que se foram rasgando no decurso dos últimos anos, nos tetos das arcadas, são o resultado dessas escavações… De resto, é visível “a olho nu” o desnível que representam as Arcadas, neste momento, em relação ao conjunto dos imóveis a que pertencem…
Nesta ordem de ideias, as limpezas das Arcadas, a que a CME procede neste momento, pobres obras de cosmética, não resolvem o grave problema da segurança dos edifícios que, como é de esperar, necessitam de estudos na especialidade com muita urgência…
Não vale a pena escrever mais… A insensibilidade para tratar das graves “doenças” da cidade, é notória e escandalosa! Veja-se: - Neste momento, em que estão em curso profundas obras de restauro e preservação da Igreja de S. Francisco, é indispensável desviar o trânsito automóvel da via que passa atrás do templo, dado os malefícios que este mesmo trânsito provoca ao corpo do templo… Mas nada foi feito no passado, tal e qual como nada é feito hoje…
Na verdade, o que se passa é que a CME tem vindo a efectuar obras de fachada desde há umas décadas. Nada que envolva estudos sérios, na especialidade. Pior: nem sequer informa os cidadãos do que sabe (sabe?) sobre real “estado de saúde” da cidade…