Sou professor há quase trinta anos e há mais de vinte e cinco que, sempre voluntariamente, faço da Gabriel Pereira a minha segunda casa - na verdade, muitos têm sido os dias em que dela faço o meu primeiro lar. Por isso, muito tempo e energia lhe tenho, amorosamente, devotado.
Ao longo destas quase três décadas tenho convivido e vindo a habituar-me às teias que sucessivos ministros e suas equipas de pedagogos, legisladores, tecnocratas e burocratas, comodamente instalados nos gabinetes da 24 de Junho e da 5 de Outubro, têm tecido, ora em tom laranja, ora em colorido rosa, à volta da Escola. Teias que se fazem para logo depois, ao ritmo das entradas e saídas do poder, se desfazerem, se sobreporem e contradizerem, multiplicando-se numa intrincada, paralisante e insana urdidura. Percebe-se assim porque, para além de outras fortes razões, a profissão de professor é tão “amiga” dos anti-depressivos, dos ansiolíticos e de outros fármacos congéneres.
Mas, nos dias que correm, os professores da Gabriel Pereira vêem-se confrontados com um ataque diferente. Tudo parece indicar que a teia que hoje se está a tramar contra esta escola é tecida, não em Lisboa – pelo menos não directamente em Lisboa – mas em Évora. Daí a surpresa e o receio em muitos instalados. Também porque um dos vértices da teia está a ser segregado no interior da própria Gabriel Pereira. Dos autores/das autoras sente-se o bafo. Da prepotência e do autoritarismo do eu quero, eu posso, eu faço. Ao gosto dos tempos que julgávamos passado e que não fazem parte –nunca terão feito – da cultura desta escola. O bafo da prepotência e da arbitrariedade por explicar, “fundamentadas” em razões que a razão não consegue descortinar e que, por isso, suscitam, legitimam e dão férteis campos para as suposições de que se fala e que me recuso a acreditar possam ser o móbil por trás da Oferta Formativa cozinhada para a Gabriel Pereira para o ano lectivo de 2013/2014. Uma coisa é certa, se se concretizasse o desenho desta teia - leia-se Rede – ela conduziria a muito curto prazo a uma diáspora sem destino certo de uma parte muito significativa do corpo docente desta escola, ou seja, ao puro e simples desmantelamento deste estabelecimento de ensino. Assim, num abrir e fechar de olhos. Porque quem reina manda. E viva o regresso ao absolutismo. Ao obscurantismo. E se se andou durante anos e anos a fazer a apologia da estabilidade do corpo docente das escolas como forma de promover o sucesso educativo, aqui está um excelente corolário: cumpra-se a deslocalização gratuita de professores, mesmo que isso custe o alienar de todo um trabalho de muitos e muitos anos de dedicação e esforço, mesmo que isso signifique que as sinergias que se foram criando na escola ao longo de décadas e décadas de persistência e perseverança se percam num abrir e fechar de olhos. O que é que isso interessa? Sim, o que é que isso interessa a quem tem vindo a cair ali e aqui de pára-quedas e que, mais cedo ou mais tarde, abandonará o cargo que agora tristemente ocupa com destino a parte incerta, deixando para trás um montão de destroços e mais um contributo para o adiamento do futuro que é disso que sempre se trata quando as intervenções na área da educação se saldam por incompetência, irresponsabilidade, cegueira ou…
E então? Ficamos de braços cruzados à espera que a teia nos paralise? Aqui deixo uma proposta a todos os pais, encarregados de educação e alunos que este ano se vão matricular no 10º ano de escolaridade. Se a Gabriel Pereira é mesmo a escola em que pretendem prosseguir estudos, não hesitem. No acto de matrícula, no impresso de inscrição, assinalem-na como primeira opção. Como segunda opção. Como terceira opção. Vamos todos juntos lutar contra a prepotência e a ignorância com as armas da liberdade, do querer e do esclarecimento.
Anónimo