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Os gregos

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As eleições do passado domingo na Grécia revelaram aquilo que o povo grego pensa dos partidos que se foram rendendo no poder e que, de forma subserviente, seguiram os ditames das políticas neo liberais impostas pelos “mercados”.
Mais do que analisar o programa apresentado pelo Syriza, a sua composição ou a opção da coligação com um partido de direita, o que nos interessa é perceber como aquele resultado eleitoral está a transtornar os partidos portugueses que de uma forma ou de outra estiveram sempre do outro lado desta história.
A coisa não é para menos. Sempre nos disseram que não havia alternativa à política de PS, PSD e CDS. Sempre nos disseram que só era possível prometer outras soluções quando se tinha a certeza de não as puder executar.
Quando em Portugal o PCP se bate pelo aumento do salário mínimo, aparecem sempre umas aves que fazem contabilidade de mercearia a garantir que tal é impossível, sublinhando a afirmação com a frase: “e onde é que iriam buscar o dinheiro para isso?”
Pois o governo grego, 48 horas depois de ser constituído, decidiu que o salário mínimo voltava aos níveis de 2012, pondo fim ao corte de 23% imposto pelo anterior governo.
Quando se afirma que é preciso travar os processos de privatização nos sectores estratégicos da economia, logo as mesmas aves vêm defender que esse é o caminho do desastre e que as empresas que querem privatizar desaparecerão se tal não acontecer.
O actual governo grego decidiu travar todas as privatizações em curso.
Tudo isto está a deixar os nossos politólogos de serviço muito nervosos e em busca de explicações que não estão nos únicos manuais que leram.
Ontem o primeiro-ministro classificava o programa do governo grego um conto de crianças, hoje, depois de se saber que os gregos estão a pôr em prática o conto de crianças, imagino que se sinta perplexo e angustiado.
Durante estes dias tenho ouvido muita gente a pedir uma unidade de esquerda que inverta esta desgraçada opção política dos últimos 38 anos. Muitos fazem-no como se isto da unidade de esquerda fosse assim uma plataforma em que forças políticas que se reclamam de esquerda se juntassem apenas por essa razão, sem ter em conta as suas propostas concretas.
Olhemos para as medidas do novo governo grego e perguntemos quem em Portugal as anda a reclamar de forma consequente. Seria uma boa base de convergência para um entendimento mínimo de governação.
Aumento dos salários e pensões, renegociação da dívida nos juros, prazos e montantes, aposta na produção nacional, travar os processos de privatização, travar o ataque aos trabalhadores do Estado e o esvaziamento das suas funções sociais, defender a contratação colectiva, repor as freguesias extintas, investir no serviço nacional de saúde, aliviar a carga fiscal sobre o trabalho e agravar a carga fiscal sobre o capital.
Vamos lá… quem é que alinha com este programa mínimo? Ou o exemplo dos gregos só é bom desde que se fique por lá?
Até para a semana

Eduardo Luciano (crónica na Rádio Diana)


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