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Revolta

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Joaquim Palminha da Silva
O «homem é a única criatura
que se recusa a ser o que é»
- Albert Camus in, O Homem Revoltado.

      A revolta é um sentimento de insatisfação isolado ou contínuo. Pode exprimir-se num gesto, constituir-se numa atitude ou posição face ao que se quer contrariar. Pode, inclusive, determinar uma acção direta, imediata ou não.
            A revolta é a escolha daquele que foi impedido de escolher. Atitude ou gesto, a revolta manifesta-se perante o arbitrário da vida que, como se sabe, é sempre uma contínua prepotência social para o ser isolado, para o eu.
            Enquanto a revolução é exclusiva da História e tem os dias contados pelos adeptos das ideologias colectivistas, a revolta está ao alcance de todos e só precisa de um acto individual de vontade para se exprimir, de forma a acontecer na realidade espiritual e material da vida.
            Cada revolução tem sempre como objectivo impor a sua Ordem à Ordem estabelecida, naturalmente através de uma falsa-desordem. Porém, seja qual for a revolução, trata-se sempre de um movimento de vanguardas condutoras que, após a tomada do Poder serão conservadoras. O fim da revolução é “fazer parar” o processo histórico da sociedade, de modo a conduzi-la até um estado pré-determinado e, depois, conservá-la dentro do caminho imaginado, “planificando-lhe” a velocidade de andamento e procurando controlar-lhe os eventuais desvios. Nesta ordem de ideias, a revolução comandada pelas ideologias é a negação da mudança a longo termo, ainda que este tipo de revolução se apresente, nos seus tempos heroicos, como potencial motor de inovação revolucionária, e o possa mesmo ser efectivamente…
            A revolução recruta e arregimenta revolucionários, isto é, agentes da nova Ordem, mas nunca terá nas suas fileiras verdadeiros revoltados. – A soma das revoltas individuais nunca deslizará para a revolução. Entretanto, a revolução não aceita de bom grado a presença da revolta individual no seu seio, dado que esta nunca fica quieta, satisfeita e confortada.
            Na verdade, a revolta dependa da capacidade de indagaão de cada um, da consciência que tiver sobre a impossibilidade de viver a sua vida segundo os seus desejos, por pacíficos e fraternos que eles sejam.
            A revolta permanente contra a sociedade e o Poder estabelecido, é um estado de espírito de contínuo alerta, por isso de grande tensão e desgaste. Tem-se verificado porém que, se está ao alcance de todos, só uma minoria tem conseguido praticá-lo com coerência: - Profetas e Santos… Poetas e Anarquistas!

            Normalmente, o cidadão comum revolta-se a conta-gotas, com intermitências. Mas nunca permanece no estado de revolta completamente, sem descanso. A revolta esporádica, assim, levada a efeito é, pois, um desejo de reconciliação disfarçado. A revolta permanenteé a forma de estar na vida do ser insatisfeito, do verdadeiro revoltado!

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