©Joaquim Palminha Silva |
Artista plástica de múltiplas aptidões, e um dos nomes da pintura portuguesa da 1ª metade do século XX. Natural de Évora, onde nasceu a 10 de Outubro de 1910.
Em 1928, Estrela Faria começou a frequência da Escola de Belas artes de Lisboa, diplomando-se em 1935. O seu quadro «Donae» (1934) foi galardoado com um 1º prémio pela mesma «Escola…».
«Donae» (1934)
Desde então a sua carreira abriu-se ao mundo. Foi artista convidada para inúmeras obras públicas, em Portugal e no Brasil. Ganhou medalhas de ouro em certames internacionais. Expôs em Évora algumas vezes, e aqui deixou a marca do seu talento no Palácio da Justiça, sala de audiências. Exposição do Mundo Português, 1940 (colaboração de 12 arquitectos, 19 escultores e 43 pintores). Entretanto (1937), já havia uma obra sua (um painel) no edifício da Caixa Geral de Depósitos, em Oliveira de Azeméis. Em 1938 foi bolseira, classificada em 1º lugar, do Instituto de Alta Cultura, partindo para Paris. Interrompida a sua estadia por causa da ocupação de França pelas tropas (nazis) do III Reich, retornou ao País, onde teve de imaginar formas de subsistência que se enquadrassem com a sua arte: fundou uma pequena oficina (Benfica, Lisboa) onde fabricou modelos em gesso para as montras das lojas de roupa de Lisboa e, pasme-se, eram de tal forma graciosos os seus modelos femininos que os transeuntes paravam face às montras, para admirar a beleza escultural destes!
Estrela Faria no seu “estúdio” em S. Paulo (Brasil) decada de 50 do séc. XX.
Data desta altura o seu pioneirismo, no provinciano panorama português, como “vitrinista”, decoradora e excelente executante da denominada “arquitectura de interiores”. A indústria de “lingerie” feminina requisitou o seu talento: loja «A Pompadour» (”Rua Garrett, Lisboa) e «Sapataria Europa» (1943/1945).
Mas a verdadeira vocação de Estrela Faria, a “grande obra pública”, iniciou-se com as pinturas a fresco para a sala «Alentejo» do Museu de Arte Popular (1948),
a que se seguiram outras obras de grandes proporções, considerando-se o seu apogeu, a vasta decoração, e arquitectura de interiores, do emblemático paquete transatlântico (hoje desaparecido) Vera Cruz!
A obra da eborense Estrela Faria, dispersa pelo País e Brasil (sabe-se lá onde mais), está injustamente esquecida, começando vergonhosa e institucionalmente na sua própria cidade natal, que tanto amou e onde tanta exposição e obras produziu!
Estrela Faria faleceu só e esquecida, em Abril de 1976. Todavia, dela disse Maria Lamas (in Modas & Bordados,4/7/1945): «Pintora, decoradora e ilustradora, Estrela Faria impõe-se pelo seu talento, vibrante de originalidade, e pela sua actividade incansável, num meio, como é, infelizmente, o nosso, onde são poucos os amadores de arte verdadeiramente conscientes. A independência artística desta rapariga que tem vencido por si própria, sem transigir com a incompreensão da maioria, pode apontar-se como nobre exemplo».
Acontece que este esquecimento parece que lhe persegue a existência física das suas inúmeras obras, mesmo depois da pintora eborense não estar mais entre nós! – Hoje, 2ª feira, dia 24 de Novembro de 2014, a jornalista Alexandra Prado Coelho preenche duas páginas do diário Público com um trabalho sobre os 55 anos de vida do Hotel Ritz.
São lembrados nesse artigo arquitectos, mestres ceramistas, pintores, etc. ... Mais uma vez, inusitadamente, nem uma palavra é dita sobre Estrela Faria, que executou para o citado Hotel cerâmica policromada, desenho de mobiliário, pintura decorativa e tapeçarias…Corria o ano de 1958-1959…
Trabalhadora incansável, como a classificou a escritora Maria Lamas, aqui temos Estrela Faria “a testemunhar o seu trabalho sobre um escadote”, Hotel Ritz, 1959! Para que conste e, mais uma vez, envergonhe os desmemoriados dos jornais e desta “ingrata” cidade!