Quase sempre que me confronto com a chamada administração pública, mais concretamente o Estado e os seus serviços, fico sem fala. Há coisas que parecem inconcebíveis, mas que “os donos disto tudo” põem em prática para martírio de milhões, que têm que acatar as suas ordens – quase sempre da forma mais absurda.
Há dias, nos serviços de segurança social fui informado de que não tinham lá o meu NIB pelo que nenhuma prestação social me poderia ser transferida por via bancária, pelo que deveria fornecer a identificação bancária. Na altura não tinha esse dado comigo, mas hoje assim o fiz.
Munido do meu NIB, todo bem escrito numa folha A4, para se ver à distância, lá fui à Segurança Social. Esperei mais de uma hora, mas estava confiante de que sairia de lá com o assunto resolvido. Afinal era só fornecer o NIB e o funcionário colocá-lo no meu perfil…. Pensava eu, mas não foi assim.
O funcionário do dia anterior tinha ido almoçar. Fui atendido por outro (a) que me olhou desconfiado e me informou que não podia ser assim: se trouxesse o papel do multibanco com o NIB ainda vá que não vá, mas o que eu teria que fazer mesmo, para que as coisas ficassem legais, era preencher um requerimento…
Fiquei perplexo: eu estava ali, perfeitamente identificado, com BI e tudo na mão, com o número do NIB, que bastava ser acrescentado à minha ficha e tinha que fazer um requerimento em papel?
Disse: deixe estar, ainda sem acreditar bem que aquilo estivesse a acontecer. E passei a outra repartição, mas o caricato continuou.
Para receber uma prestação a que tenho direito preciso de ter a actividade em nome individual fechada. Assim fiz já há algum tempo (finais de Agosto!). Mas acontece que essa informação das finanças ainda não “migrou” (informaticamente, sublinho!) para os serviços de segurança social, pelo que o processo não pode avançar.
Confiante em que o papel “é quem mais ordena” levei à segurança social o comprovativo do fim de actividade, mas foi-me dito: mesmo assim vai ser muito difícil, o sistema muitas vezes não aceita alterações manuais. Temos que esperar…
Isto na Europa, em 2014. Numa era de computadores e partilha de informação à décima de segundo, isto apenas simboliza o desastre total que é grande parte da nossa administração pública. Não só por causa do tão badalado Citius na justiça, mas de tudo o que são plataformas digitais, da saúde ao quer que seja, que revelam o "desenrascanço" e a incompetência generalizados e a inexistência de uma organização do trabalho em função do cidadão.
A verdade é que temos tido (e, pelo que se desenha no futuro, vamos continuar a ter) à frente da administração pessoas a quem apenas interessa a intervenção política e as benesses do poder, boys e girls na verdadeira acepção do termo, para quem os cidadãos e as suas necessidades são coisas descartáveis, sofrivelmente interessantes a não ser como eleitores - e mesmo assim apenas de quatro em quatro anos e de que se vão esquecer no dia seguinte.
Mas por que é que esta gente – dos experimentalistas aos tradicionalistas, dos da renovação ao da continuidade - não migra toda e vão brincar às administraçãozinhas, às quintas e quintinhas para uma ilha deserta e nos deixam em paz?