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Channel: A Cinco Tons
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Manifestamente Prematuras

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Descobri há uns tempos o significado de “esquerda caviar”. Trata-se de uma esquerda cosmopolita, que partilha espaço sem contudo partilhar o que na realidade conta, experiências, simbiose, multiculturalismo, convergência... tudo isso é descartado, posto de lado. Na esquerda caviar está-se! Apenas isso.
Há território demarcado em que os outros são profanos! Há poder que se não partilha e múltiplas narrativas de poder que servem para embelezar a imagem propagandeada. Há em suma, na esquerda caviar, um vazio bacoco que só serve as aparências e assim se vai, aos trancos e barrancos, até a realidade cair de outra dimensão e esmagar os oráculos e os penduricalhos que enfeitam o oráculos e os genuinamente crentes que não sabem sequer o que é caviar...
Por isso me confundem as notícias de que alguém saiu do BE... ninguém sai do BE! O BE sai das pessoas, evapora-se, retorna à sua existência ficcionada. Na verdade o BE já há muito não existe. É caviar que alguns têm na mesa e é sonho para a maioria que ainda acredita poder existir um espaço de entendimento, de prática cidadã, de aposta nas diferenças como factores de crescimento, como mais valias para uma acção concertada, que introduza de vez uma prática republicana, valores republicanos, uma cidadania responsável!
Existe muita gente à esquerda do PS, que entende ser a convergência resultado de um esforço de entendimento, consequência de ir ao encontro de, em vez de ficar à espera que os outros aceitem condições impostas para que haja sequer hipótese de diálogo. Não creio que quem assim pense, constitua a minoria da esquerda neste país, mas mesmo que assim fosse, é de minorias somadas que as maiorias se constroem. Foi essa a lição que aprendemos com a criação do BE. Três correntes fundadoras que juntaram esforços e passaram por cima de receios infundados, para criarem um partido que foi, durante uns tempos, uma pedrada no charco da nossa democracia.
As coisas mudaram. Deixaram de estar institucionalizadas as correntes fundadoras, organizaram-se tendências, reformulou-se dentro do Partido a correlação de forças e, o que seria positivo, acabou por trazer á tona antigas divergências e "modus operandii" que supostamente estariam erradicados.
As querelas pelo poder chegaram ao ponto de assistirmos aos responsáveis pelo apoio, conjuntamente com o PS, à candidatura presidencial de Manuel Alegre, clamarem agora contra um putativo entendimento com os socialistas para derrubar o governo de direita. Curiosamente, são os mesmos que avançaram com a Moção de Censura que abriu as portas do poder a essa mesma direita, os mesmos que inviabilizaram entendimentos à esquerda para as eleições europeias, os mesmos que agora censuram o abandono do partido por parte de muitos, que cansados de não serem escutados, de não terem voz, de verem as suas propostas recusadas e depois recicladas por quem as descartou, chegaram à conclusão que o BE não é o único espaço, o exclusivo instrumento, para que possam prosseguir empenhadamente a sua luta.
Há uma diretiva que sempre deu mau resultado, como a própria história não se cansa de ensinar, e que reza assim: “ quem não está conosco, está contra nós”. 

Quanto à Manifesto... desvinculou-se, sem dúvida, mas... a militância no BE é individual, no partido é suposto não haver carneiros, por isso... afirmar que quem é da Manifesto, já não tem lugar no BE, é tal como afirmou Mark Twain dizer que as notícias da minha morte são “manifestamente” prematuras. Até parece que ele adivinhava.


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