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Reestruturações

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Porque não gosto de assobiar para o lado, nem enterrar a cabeça na areia, aproveitarei esta minha última crónica antes do período de férias para vos falar um pouco sobre a notícia mediática dos últimos dias, em torno do Bloco de Esquerda.
Soubemos este fim-de-semana que o Fórum Manifesto, na qual se inclui a Ana Drago, se afastou do Bloco de Esquerda. Há muito que este conjunto de pessoas pressionava para uma aproximação do Bloco de Esquerda ao Partido Socialista. Apesar da actual maioria rejeitar esta política de aliança, teria sido mais claro levar esta posição à Convenção que se realizará em Novembro. Não foi o caso, e este fórum de discussão organizar-se-á na forma que considerar mais eficaz para prosseguir aquilo que entendem ser melhor para o país.
Ainda assim, este afastamento em nada altera a posição aberta para juntar mais forças à esquerda para enfrentar a política austeritária. As divisões à esquerda nunca são uma boa notícia, mas a definição do que é uma política de esquerda no actual momento político e social é crucial. E sejamos francos, só tem ilusões com o Partido Socialista quem não tem a mínima noção do que a sua máquina representa, e de quais os reais interesses que o sustentam.
Esta semana um conjunto de economistas - Francisco Louçã, Ricardo Cabral, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos - definiram um roteiro concreto para a reestruturação da dívida, que implica a redução de 149 mil milhões da dívida pública e de 100,7 mil milhões de redução do passivo dos bancos, através de um processo de resolução bancária sistémica, com o objetivo de garantir o autofinanciamento futuro da economia nacional. Este roteiro detalhado é claro e pode ser consultado na íntegra na internet.
António Costa e António José Seguro apressaram-se a desvincular-se deste roteiro detalhado para uma reestruturação séria da dívida. Mas alguém ainda tem dúvidas de qual a política que vai ser seguida por qualquer um dos dois?
De facto, a urgência de romper com um governo de direita não pode levar a soluções menos más, nem a ilusões. Portugal está numa situação de emergência. E à emergência só se responde com coragem, com cabeça fria e com respostas claras e objectivas.
As pontes e as portas deverão estar abertas à formação de um governo de esquerda, plural e abrangente, mas este não pode abdicar nem da reestruturação da dívida nem da rejeição do tratado orçamental.
Esta é a linha que separa. A vida, a política e os partidos não são feitos do que gostaríamos que fossem, mas da dura realidade.
Desejo a todos os ouvintes um bom período de férias. Estarei de volta em Setembro.

Bruno Martins (crónica na rádio diana)

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