Está a acabar a fase de grupos do campeonato do mundo de futebol e talvez seja o momento de fazer algumas leituras do que foi acontecendo retirando lições aplicáveis fora do restrito mundo do futebol.
A Itália, que tem certamente um dos jogadores mais inteligentes e o treinador mais elegante da competição, foi atirada para casa. Conclui-se então que inteligência e elegância não bastam para atingir o sucesso, sendo certo que é no momento da derrota que mais se evidenciam essas qualidades.
A Espanha que voltou a apostar nos mesmos jogadores e modelo de jogo que lhe garantiram a vitória nos último campeonatos da Europa e do Mundo foi atirada para casa ao fim de apenas dois jogos. Trata-se da demonstração ao vivo e a cores que mesmo quando parece que a receita da vitória é para todo o sempre é necessária a coragem para fazer rupturas, experimentar outros caminhos e ousar outras soluções, sendo preferível perder porque se mudou do que perder porque se teve medo de mudar.
A Inglaterra entrou e saiu sem uma única vitória, apesar da agressividade dos seus jogadores e da inegável disponibilidade para entrega à tarefa, jogando sempre com o coração e muito pouco calculismo. Moral da história, neste mundo em que o sucesso se mede em vitórias e derrotas, o cinismo é uma qualidade essencial para se ultrapassar os obstáculos.
Portugal precisa de um milagre no jogo de hoje para puder seguir em frente na competição, o que me parece altamente improvável.
A equipa da Federação Portuguesa de Futebol foi para a competição não como uma equipa mas como algo composto por um rei e 22 súbditos. A comunicação social e os patrocinadores centraram-se na figura de um D. Sebastião como se o restante exército fosse mera peça decorativa no campo de batalha.
Sendo o futebol um desporto colectivo seria previsível que um desastre estaria prestes a acontecer, quanto mais não seja pela dificuldade em motivar um colectivo que se sente apenas uma muleta de uma estrela que tem sobre si todos os holofotes do planeta.
Aqui, como na vida, a desvalorização do colectivo, a criação de hierarquias que substituem a distribuição de tarefas pela subalternização da importância real pela importância formal, leva à desagregação e à derrota.
No final resta (como sempre no nosso destino colectivo) a crença de que surgirá um qualquer homem providencial que voltará a guiar-nos à vitória, num qualquer futuro mais ou menos longínquo, sem percebermos que somos nós os criadores das nossas Alcácer Quibir.
A minha prima Zulmira prevê a vitória da Grécia, por várias razões. Porque o treinador é português, porque não jogam nada mas trabalham muito, porque não têm homens providenciais e porque nenhum dos seus jogadores se parece preocupar mais com o penteado do que com o futebol que joga.
Até para a semana
Eduardo Luciano (crónica na rádio diana)