Ainda não vi com grande atenção a Feira deste ano aqui em Évora, por isso apenas posso destacar três ou quatro pontos. Fui lá no sábado à noite, passei pelo chamado "Espaço Jovem", dei uma pequena volta pela feira do livro e jantei numa das associações culturais instaladas no Jardim. Deu para ver pouca coisa, mas não me pareceu absolutamente nada que esta seja uma feira de "ruptura", como disse o vereador da cultura da Câmara de Évora à Agência Lusa. Parece-me mais de continuidade e não podia ser de outra maneira. Esta feira existe há 500 anos, tem vindo a perder prestígio e importância - como a maioria das feiras deste tipo - e não é com um mero estalar de dedos que se rompe com o passado. Politiquices à parte, acho que a ligação da feira ao Jardim nunca deveria ter sido interrompida e a escadaria liga bem os dois espaços. A feira do livro pareceu-me muito fraca, descosida, quase triste, com os stands com poucos livros, com poucos frequentadores, apesar de haver muita gente a passar ali ao lado.
Gostei do facto de haver mais espaço (menos stands também) e dos carros não ocuparem toda a parte central da feira, mas ficou tudo mais escuro, falta iluminação e se se compreende a presença da chaimite ali, nos 40 anos do 25 de Abril, rodeada de cravos simbólicos, pelo menos à noite tudo aquilo passa despercebido e tem o aspecto de um qualquer mamarracho.
Mas o que se sente é que a Feira continua a perder importância e impacto, como aliás já se nota há vários anos. Já em 1995, o então vereador do PCP, Jorge Pinto dizia ao nº 3 da revista "Imenso Sul", em artigo intitulado "Feira de S. João: Adeus ao Rossio de S. Brás", assinado por Conceição Rego, que aquele poderia ser o último ano em que a Feira de S. João se realizava no Rossio, devendo ser transferida para outro local. Naquela altura ainda se discutia se seria "junto ao nó da Lagril, entre as instalações da SOMEFE e o espaço destinado ao MARÉ ou no Parque Industrial e Tecnológico de Évora, junto do NERE". Aliás, nesse ano, na Feira, foi também apresentado o projecto de Reordenamento do Rossio que previa a manutenção duma grande praça, complementada com edificios de habitação, escritórios e comércio, assim como um espaço para espectáculos e um outro para estacionamento público com 500 lugares. Anunciava Jorge Pinto que as obras deveriam ter início "em 1996 e decorrer até final do século".
Claro que as obras, quer do Parque, quer do Rossio nunca avançaram. A CDU esteve na Câmara ainda vários anos e, em cada edição, era anunciado que a Feira iria ter, no próximo ano, um novo espaço e novas condições para se realizar. Isso nunca aconteceu. Já no tempo em que o PS dirigiu a Câmara, a opção da mudança da Feira ainda perdurou durante alguns anos, mas José Ernesto Oliveira assumiu mais tarde que não havia condições económicas nem financeiras para a construção do desejado Parque de Feiras e Exposições.
É esse o ponto - parece - em que estamos e em que já ninguém defende a saída da Feira do local onde está. Ou não?